Palestra - Dr. Idblan Carvalho de Albuquerque - 7/11/2012

Dr. Idblan iniciou a palestra comentando que estava revendo amigos de outrora e também novos amigos e que para falar nem precisaria de imagens, mas que mesmo assim preparou uma apresentação, que a tecnologia insistia em não colaborar, mas no final ele conseguiu abrir o arquivo e, realmente nem precisava pois ele nos brindou com um bate papo muito esclarecedor e divertido!

“Como um palestrante, seja para pacientes ou para doutores, tenho que fazer o que eu acredito e não reproduzir o que não seja a minha verdade.

Então, olhando para a sua mochila, comentou que acredita que na vida, tudo depende do teu trabalho, da tua determinação. Essa é o caminho para se chegar a algum lugar. Ser determinado. Citou como exemplo Ayrton Senna da Silva um dos maiores pilotos de F1 da Humanidade, que quando chovia em SP, pedia ao motorista para levá-lo para Interlagos e lá ficava correndo na chuva minutos após minutos treinando aquela dificuldade de correr na chuva e assim se tornou um profissional que foi considerado o rei  da chuva.  

“A vida exige exatamente isto: Disciplina,Treinamento e isso é fundamental para a sobrevivência.”

E, voltando para a mochila lembrou-se de um filme chamado “Amor nas Alturas” onde  a vida de um cara era ensinar as pessoas como encher a mochila de coisas – ele dava palestras motivacionais para você se motivar a a agregarem coisas, apartamento na praia, um carro novo a se tornar bonita,  ser feliz…sim, hoje em dia  é moda todos sermos felizes…a motivar todos a colocarem “coisas” na mochila…

Só que num determinado momento essa mochila se torna tão pesada de “coisas” que para carregar, parece que ela está te diminuindo, foi então que o cara imaginou que temos que tirar o peso da mochila, se tornar mais leve, mais simples e foi essa a idéia que o Dr. Idblan  veio pensando em nos falar. 

“Na verdade o ostoma é um momento em sua vida que vai exigir disciplina, determinação mais por outro lado, como a mochila, vai depender do referencial que você tem e vai tornar a vida mais ou menos leve evidentemente…isso é interno de cada um, faz parte da alma de cada pessoa e pessoas tem almas diferentes. Uma pessoa tem uma determinada compreensão da alma e cada pessoa tem uma alma e uma compreensão diferente. O mesmo ostoma em pessoas diferentes terá um comportamento diferente.”

Ele lembrou que uma pessoa via de regra usa uma colostomia/ileostomia por problemas no intestino e via de regra o intestino grosso está afetado, porém existem outros tipos: urostomia, traqueostomia,ureterostomia…porém, o foco da palestra será a colostomia e ileostomia.

As doenças que envolvem o intestino e o uso de uma colostomia/ileostomia provocam Segundo ele, uma”encabulação” encabulação (vergonha) e é comum que o indivíduo tenha um carroço no ânus, um sangramento e pensar: “Se Deus me ajudar vai ficar bem”, e aí passa um dia passa outro e a coisa acontece pelo medo de ser examinado e as pessoas deixam a doença evoluir e acabam chegando a uma ostomia.

E no dia-a-dia, as chances de uma pessoa dita “saudável” tomar um tiro na rua e ficar com uma ostomia é grande, porém a grande maioria ainda é secundária a uma doença. Esses ostomas tem caráter definitivo para curar uma doença próxima ao ânus ou em caráter temporário curar alguém que passou por um acidente.  E assim, esse ostoma significa uma grande dificuldade de adaptação pelas pessoas e temos que imaginar que quando da realização de um ostoma, você terá um tempo de vida muito grande e hoje as pessoas vivem até os 90 anos ou mais e quando esse ostoma aparece numa fase muito cedo da vida, então temos que equacional esse tempo/ostoma.

“O individuo ficou ostomizado e essa ostomia representa o que na vida dele? Relacionado com a doença física ou acidente  evidentemente com a doença da alma.”

A modernidade é boa, mas a doença da “alma” acontece  quando  o indivíduo toma posse da tecnologia, tentando imaginar que a tecnologia é tudo  e que não existe alma, não existe Deus, não existe nada e isso é um grave engano e, dependendo da formação e dos aspectos emocionais, você terá uma maior ou menor resposta da doença física que aqui se imagina como o ostoma e, evidentemente quem te ajudará bastante neste momento é a equipe de saúde e, se você for um paciente que é cuidado por uma equipe competente que te auxilia em tratamento, cirurgia, medicamento será bem mais tranquilo este momento em sua vida.

“A vida após a ostomia depende da questão da doença se é temporária ou definitiva e os aspectos psico,físico e emocionais”

E não se pode esquecer que o trauma, a doença é sua e não do médico e depende de você essa aceitação que faz com que você tenha força e aceite a situação e este trauma associado a questão física e debilitante do tratamento precisam de todo esse contexto da alma do ser humano e da equipe técnica.

“Para a pessoa pode ser um trauma e o ostoma é por causa de uma doença, ninguém tem um ostoma porquê quer!A equipe que te cuida, ampara e faz da tua vida mais controlada"

Imaginem uma jovem senhora de uns 60 anos com uma ostomia e que terá que fazer radio e quimioterapia e se não tiver o amparo da família, da equipe multidisciplinar,ela terá muitas dificuldades.Essa situação vai exigir da pessoa uma mudança de comportamento

Dr. Idblan comentou que gosta muito de um filósofo chamado Nietzsche e citou a passagem em que Nietzsche vê um homem batendo em um cavalo para que ele andasse mais rápido, aí então ele foi até o animal, o abraçou e disse: Perdoe esse animal, ele não sabe o que está fazendo.”

E o ser humano não evolui adquirindo bens materiais, tais como carros,casas e apartamentos, na visão de Nietzsche o ser humano evolui quando se aproxima do natural, dacoisa que é bela, ou seja de se comportar perante os seus semelhantes com naturalidade e compreender que o ser humano é assim como um urubu, é assim como uma cobra, somos animais que fazemos parte de um planeta e somos a espécie em maior quantidade, mais de 7 bilhões de humanos! Temos humanos demais e temos que evoluir para essa naturalidade e compreendermos que essa natureza nos impõe coisas, como uma doença, por exemplo.

"Temos muitos estereótipos, o médico, por exemplo que deve ser “bem vestido e usar jaleco branco” e aí temos que cuidar para não adquirirmos rótulos: Sou ostomizado, sou um inválido…e não é assim, a vida continua e você só tem que descobrir esses novos valores, uma nova maneira de viver e aí você evolui quando  adquire essa nova posição apoiado pela família e pela equipe técnica, você evidentemente terá uma vida mais digna."

“O ostoma é um momento de reflexão, para você muda a tua maneira de viver
a vida, de se relacionar com seus semelhantes e essas questões passam por vários aspectos.”

A ostomia é realizada quando há evidentemente a necessidade e o médico faz todo o possível para evitar e, em certos casos fazem uma anastomose no intuito de evitar um ostoma e acabam prejudicando o tratamento , por isso, o importante é falar claramente com o paciente, explicar a necessidade da cirurgia.

“Ter esperança é prolongar o sofrimento”- comentou Dr. Idblan.

Temos que trabalhar com coisas objetivas que o paciente tem necessidades, de trabalhar, de se vestir, comer, ter dignidade, de ser feliz…

“Penso sempre em outros aspectos da vida do paciente…ninguém é dono da verdade e o que é verdade hoje,amanhã pode ser mentira… Nós somos vaidosos, prepotentes e e o fato da ostomia pode ser traumático, sofrido, representa um fato em sua vida. É traumático, mas precsia ser evoluído e é necessário sofrer essa transmutação e a doença é da pessoa e não da equipe e a solução é assumir a responsbilidade para vc!”- comentou o Dr. Idblan

E Esse questionamento é muito importante:

O objetivo da equipe de saúde é exatamente esse, a equipe tem que ter a postura de imaginar que a pessoa está com um trauma emocional, medo da rejeição, do medo da rejeição da família, do marido/esposa, perder o emprego e por aí vai e a equipe tem que ter essa compreensão e carregar essa pessoa no sentido de amparar, orientar, confortá-la e esclarecer que essa situação não a impeça de ter um sorriso bonito!

E o paciente  que está ostomizado de breve para chegar a este sorriso ele precisa assumir a doença dele, compreender essa nova realidade

E o que é rejeitar? A rejeição diz respeito a uma coisa diferente em um determinado meio, mas assim como o preconceito ela está em você e não no outro!

Você é um ostomizado e não deve se sentir rejeitado, você é uma pessoa que tem uma vida e por alguma circunstância da vida perdeu a possibilidade de fazer cocô pelo ânus e qual o problema disso? E hoje com  os dispositivos modernos muitas vezes nem se percebe que a pessoa é ostomizada.

O Dr. Idblan, citou os Crohnistas da Alegria:

“O nome nasceu da palavra doença de crohn, de contar histórias  da vida e são pacientes alguns ostomizados, outros não que se reúnem para fazer discussões sobre a condição de doente, de estar naquele momento com um sofrimento no corpo e na alma que muitas vezes a equipe não consegue dar o amparo.”

E um problema muito grave é a questão da linguagem, de se fazer compreendido. É muito delicado a comunicação da equipe com o paciente ostomizado debilitado física e emocionalmente e, se tiver dificuldade de compreensão das orientações, um grupo de pessoas podem sim se reunir para falar dos medos, das angústias, dificuldades técnicas . Afinal…

”Uma andorinha sozinha não faz verão mas um bando de andorinhas é capaz de cagar um igreja inteira.”

Viver não é fácil, porém temos que buscar a cada dia melhorar e com essa melhora ter o que se chama uma vida melhor, uma vida digna!

Agradeço e desejo que a vida de vocês com ou sem ostoma seja florida como essa imagem