Quem é paciente, familiar,
amigo ou conhece alguém que tenha doença inflamatória intestinal sabe que
estamos sempre procurando novidades a respeito dos tratamentos, algo novo,
alguma nova esperança de cura ou, ao menos melhora na qualidade de vida
.
O primeiro transplante de células
tronco para D.Crohn foi realizado no ano de 2003 em Chicago e no Brasil já é
realizado desde 2004, sendo considerado como uma forma de tratamento visando a melhoria
na qualidade de vida, quando o paciente não responde mais aos tratamentos
medicamentosos propostos, ou seja, ainda não é a CURA e nem uma primeira opção
de tratamento, como muitos imaginam.
Durante um evento que eu tive
oportunidade de participar, assistindo a aula sobre Transplante de Células
Tronco na Doença de Crohn, com o Dr. Roberto Luiz Kaiser Júnior, fiquei
entusiasmada com a notícia de uma nova perspectiva de tratamento utilizando células
tronco mesenquimais para uso tópico em fístulas perianais. Ainda em estudo, não
se sabe qual é o melhor perfil de pacientes. Mas,já é algo para termos esperança!
Então fui pesquisar mais a
respeito e encontrei alguns trabalhos, inclusive um fio de sutura com células
tronco desenvolvido pela UNICAMP e já patenteado que auxilia cicatrização.
Ao final do texto, estão
listados os links para pesquisa, sempre bom estar informado e depois conversar
com o medico que nos acompanha para saber a opinião e também como estão estas
pesquisas. Lembrando que o profissional tem mais subsídios para nos orientar e
juntos (médico e paciente) decidirmos o melhor a ser feito.
Boa leitura a todos,
Células-tronco, por definição, são aquelas capazes de autorrenovação
prolongada através de sucessivas divisões mitóticas do tipo assimétrica e
passíveis de originar pelo menos um tipo celular em estágio mais avançado de
diferenciação (Morrisson et al., 1997).
Ainda como característica, as
células-tronco são células não especializadas, ou seja,não possuem ainda
comprometimento morfológico e funcional com nenhum tipo celular (Del
Carlo,
2005).
As células tronco despertam interesse por suas características biológicas peculiares que as tornam possíveis ferramentas clínicas em diversas áreas biomédicas. As células tronco mesenquimais, por sua vez, são consideradas células multipotentes adultas não hematopoiéticas com propriedade de autorrenovação e capacidade de diferenciação em tecidos mesenquimais. Estas células podem ser obtidas de diferentes fontes no organismo adulto.
Levando em consideração o grau de plasticidade da célula-tronco, ou seja, o seu
potencial de diferenciação em tecidos variados, podemos classificá-las em três tipos:
totipotentes, pluripotentes e multipotentes.
As células-tronco totipotentes podem originar tanto um organismo totalmente
funcional, como qualquer tipo celular do corpo, inclusive todo o sistema nervoso central
e periférico (Gage, 2000). Correspondem às células do embrião recém-formado (zigoto)
e têm potencial para originarem até mesmo as células dos folhetos extra-embrionário,
3
que formarão a placenta e os demais anexos responsáveis pelo suporte ao embrião.
Entretanto, estas células possuem um tempo de vida curto e desaparecem poucos dias
após a fertilização (Robey, 2000).
As pluripotentes são células capazes de originar qualquer tipo de tecido sem, no
entanto, originar um organismo completo, visto que não podem gerar a placenta e outros
tecidos embrionários de apoio ao feto. Formam a massa celular interna do blastocisto
depois do quarto dia de fecundação e participam da formação de todos os tecidos do
organismo (Robey, 2000).
As células-tronco multipotentes são um pouco mais diferenciadas, presentes no
indivíduo adulto, com capacidade de originar apenas um limitado número de tipos
teciduais. Estas células são designadas de acordo com o órgão do qual derivam e podem
originar apenas células deste órgão, possibilitando a regeneração tecidual local (Gage,
2000).
As células-tronco mesenquimais, por sua vez, compõem um grupo particular de
células-tronco adultas encontradas em várias partes do organismo com capacidade de
diferenciação em tecidos mesenquimais. Com o avanço no entendimento das
características apresentadas pelas CTMs (células tronco mesenquimais) e a padronização das técnicas de isolamento, cultivo, diferenciação e congelamento fica cada vez mais possível a aplicação clínica
destas células.
As CÉLULAS-TRONCO
MESENQUIMAIS estão sendo estudadas em grandes centros no mundo inteiro para
tratar doenças autoimunes: artrite reumatoide; lúpus; esclerose múltipla;
miastenia; distrofia muscular, esclerose lateral amiotrófica (ELA),Doenças
degenerativas: Alzheimer; Parkinson;
Regeneração de tecidos:
Diabetes tipo l; insuficiência cardíaca; Infarto agudo; derrame; trauma
raquimedular; doenças hepáticas; osteocondral; reconstrução de córnea, tecidos
destruídos por radioterapia ou quimioterapia; entre outras.
Abaixo segue a lista dos
principais testes clínicos utilizando CTM cadastrados no site
clinicaltrials.gov, patrocinado pelo FDA (agência reguladora de serviços de
saúde nos EUA). Este site é a principal fonte de informação sobre testes
aplicados em seres humanos. São mais de 400 testes clínicos sendo realizados no
mundo inteiro.
Fase
I : testes clínicos que avaliam a segurança da terapia em pequenos grupos de
pacientes;
Esclerose
Lateral Amiotrófica (ELA)
Fase
II: testes clínicos que avaliam a segurança e eficácia do tratamento;
-
Pseudoartrose
-
Cirrose Hepática
-
Esclerose Múltipla
-
Acidente Vascular Cerebral
-
Isquemia de Membros
-
Anemias
-
Lesão Medular
-
Doença de Parkinson
-
Ataxias
-
Lesão Cerebral
-
Coadjuvante em Transplantes de Órgãos
-
Artrite Reumatoide
-
Lesões de Medula
-
Queimaduras
-
Distrofia Muscular de Duchenne
-
Coinfusão em transplantes de Células-tronco Hematopoiéticas
-
Lesões Pulmonares
-
Lúpus
-
Doença Buerger´s
-
Derrame
-
Epidermólise Bolhosa
-
AIDS
Fase
III: testes
clínicos que confirmam a segurança e eficácia do tratamento com um grande
número de pacientes em condições controladas:
-
Osteoartrite
-
Úlceras de pele
-
Doença do enxerto versus hospedeiro
-
Cardiopatias
-
Diabetes
-
Nefropatias
- Doença de Crohn
Fio
com células-tronco acelera cicatrização
Lesões
em que técnica foi usada sararam em 15 dias em cobaias, quando o normal seria
levar 10 semanas
Para reparar feridas no
intestino de cobaias, pesquisadores da Unicamp estão contando com a ajuda de
"costureiras" microscópicas: as células-tronco mesenquimais. Por meio
de uma técnica complexa, patenteada pela universidade, eles descobriram como
"colar" as células num fio de sutura cirúrgica. As feridas costuradas
com o fio especial cicatrizaram em 15 dias, quando o normal seria levar em
torno de dez semanas. Por enquanto, a abordagem foi testada em ratos.
"Isso pode ser um
avanço na área de regeneração de tecidos", diz a hematologista Ângela
Malheiros Luzo, coordenadora do estudo.
Ângela é orientadora do
biólogo Bruno Bosch Volpe, cujo trabalho de mestrado foi o desenvolvimento da
técnica e que deve continuar a refiná-la em seu doutorado.
As células-tronco
mesenquimais estão em diversas regiões do corpo, como cordão umbilical e
camadas de gordura - nesse último caso, é fácil obtê-las durante uma
lipoaspiração, por exemplo.
"Preferimos células
vindas da gordura porque, além de a obtenção não ser tão invasiva, é mais fácil
fazer elas proliferarem", diz Ângela.
Ainda há dúvidas sobre a
versatilidade desse tipo de célula. Sabe-se que elas dão origem a tecidos como
osso e cartilagem e há indícios de que poderiam se transformar em músculos ou
neurônios.
Testes iniciais mostraram
resultados animadores para uma série de doenças, mas é possível que elas
funcionem só como "suporte de vida" de órgãos lesados, produzindo
substâncias que facilitem a cicatrização, por exemplo.
No caso das feridas
intestinais estudadas, as fístulas (canal que une duas regiões que deveriam
estar separadas), outros cientistas já tinham tentado amenizar a lesão
aplicando células-tronco, sem grandes resultados.
Parece que o pulo do gato é o
uso do fio especial para costurar a ferida. Volpe e sua orientadora acharam a
receita correta para "colar" células vivas no fio, com a ajuda de uma
substância chamada fibrina, e manter a proliferação delas antes da costura.
"O importante do
trabalho não foi só o uso da cola. A questão era fazer com que as células
saíssem do fio e tivessem efeito benéfico depois da sutura", diz a
hematologista.
Outra vantagem da abordagem
é que as células-tronco usadas em humanos seriam obtidas a partir do organismo
do próprio doente, evitando a rejeição.
Não há datas para testes em
pessoas, mas um alvo óbvio são as que têm doença de Crohn, problema com severos
sintomas gastrointestinais e recuperação difícil.
Mas, diz Ângela, a técnica
poderia melhorar a eficácia de suturas em outros casos, como em cirurgias
plásticas.
Pesquisador: Cristina
Ribeiro de Barros Cardoso/ Instituto: UFTM - MG
"Potencial terapêutico de
células mesenquimais estromais na doença inflamatória intestinal
As Doenças Inflamatórias
Intestinais (DII), como a doença de Crohn e a colite ulcerativa, são
caracterizadas por inflamação crônica descontrolada da mucosa intestinal.
Enquanto a colite ulcerativa é caracterizada por resposta imune Th2, pacientes
com doença de Crohn apresentam resposta Th1 e, recentemente, descobriu-se a
presença de células Th17, com produção das citocinas IL-17 e IL-23 na mucosa
inflamada. Por outro lado, as subpopulações de células T reguladoras apresentam
papel crítico no controle de respostas auto-imunes e/ou exageradas, como nas
DII. Embora as terapias atuais sejam direcionadas a estes elementos da cascata
imuno-inflamatória, nenhum tratamento é, no momento, totalmente efetivo, sendo
evidente a necessidade de novas terapias para o controle da progressão das DII.
As células mesenquimais
estromais (MSCs) são células multipotentes de medula óssea, com grande
capacidade imunossupressora e reguladora, com importantes perspectivas
terapêuticas para o tratamento de doenças auto-imunes e inflamatórias. Sendo
assim, este estudo pré-clínico visa avaliar o potencial terapêutico de MSCs
humanas na DII induzida experimentalmente. As MSCs serão isoladas e cultivadas
a partir de células mononucleares de medula óssea de doadores saudáveis. A DII
será induzida em camundongos Balb/c com injeção intra-retal de ácido
trinitrobenzeno sulfônico (TNBS) e, após indução da doença, fenotipagem e
marcação das MSCs, os animais serão tratados com as células e sacrificados nos
dias 7, 14 e 60 pós-transplante, para a coleta de segmentos intestinais e
linfonodos mesentéricos. Serão avaliados o peso, presença de diarréia e, por
histopatologia, a resposta inflamatória intestinal de camundongos com DII antes
e após o tratamento com MSC. A modulação da resposta imune intestinal será
avaliada com ênfase nas subpopulações de células T reguladoras e Th17.
Além destas, as células do
infiltrado inflamatório (CD3, CD4, CD8, CD11b, CD11c, NK, NKT, gama-delta) no
intestino e linfonodos serão avaliadas por citometria de fluxo,
imunohistoquímica e microscopia confocal. A expressão dos fatores de
transcrição ROR, Foxp3 e das citocinas IL-10, TGF-beta, IL-4, IFN-gama,
TNF-alfa, IL-6, IL-17, IL-21, IL-23, IL-25 e IL-27 será avaliada por PCR em
tempo real e/ou ELISA. Ainda, o potencial supressor das células T reguladoras
antes e após a terapia com MSCs será avaliado em ensaios de co-cultura com
células efetoras, assim como a capacidade proliferativa de linfócitos T
efetores de animais com DII frente às MSCs.
A presença, no intestino, da
população de MSC infundidas, será avaliada por imunohistoquímica/confocal e a
ocorrência de fusão celular entre as MSC humanas e células intestinais murinas
por FISH. Amostras de outros órgãos serão também coletadas com o intuito de se
averiguar possíveis alterações e a migração de MSCs para outros tecidos além
daqueles inflamados, por meio da marcação das MSC (Qtracker) previamente à
infusão. Finalmente, os resultados obtidos contribuirão para o entendimento da
patogênese das DII e para demonstração da eficácia das MSC no tratamento dessas
doenças, bem como os mecanismos imunológicos envolvidos. Sendo assim, este
projeto visa proporcionar bases científicas para o desenvolvimento de novas
estratégias terapêuticas para o tratamento da colite ulcerativa e/ou doença de
Crohn."
“ As CTMs (células tronco
mesenquimais de origem adiposa) mostraram-se eficientes no tratamento de
pacientes com desordens imunológicas e hematológicas. As CT autólogas (células tronco do próprio paciente) aumentaram a taxa de sucesso de tratamento de fístulas
abertas para o exterior da cavidade abdominal em pacientes com Doença de Crohn.”
“ A pesquisa “Avaliação da
imunomodulação e do processo de cicatrização envolvidos no tratamento de
fístulas enterocutaneas realizado com células estromais mesenquimais de tecido
adiposo humano aderidas a fios de sutura”, realizada pelo biólogo Bruno Busch
Volpe, da pós graduação da FCM, foi a única do Brasil selecionada e premiada
durante o congresso internacional Till and McCulloch Metting.”
Fontes consultadas:
Maria Rita