Lembrando que no dia 12 de Outubro é comemorado o Dia de Nossa Senhora Aparecida,
padroeira oficial do Brasil vou comentar um pouco sobre FÉ, independente de sua escolha
e crença, ok?
Novos estudos mostram que o
cérebro é “programado” para acreditar em Deus e que isso nos ajuda a viver mais
e melhor
A capacidade inata de procurar a
explicação de um fenômeno é uma das diferenças entre o ser humano e outros
animais. O homem primitivo não tinha como entender eventos mais complexos, como
a erupção de um vulcão, um eclipse ou um raio. A busca de explicações
sobrenaturais pode ser considerada natural. Mas por que ela desembocou na fé e
no surgimento das religiões? Cientistas de diferentes áreas se debruçaram sobre
a questão nos últimos anos e chegaram a conclusões surpreendentes. Não só a fé
parece estar programada em nosso cérebro, como teria benefícios para a saúde.
Com sua intuição genial, Charles
Darwin, criador da teoria da evolução há 150 anos, já havia registrado ideia
semelhante no livro A descendência do homem, em 1871: “Uma crença em agentes
espirituais onipresentes parece ser universal”. “Somos predispostos
biologicamente a ter crenças, entre elas a religiosa”, diz Jordan Grafman,
chefe do departamento de neurociência cognitiva do Instituto Nacional de
Distúrbios Neurológicos e Derram. Grafman ,autor de uma das pesquisas sobre
o tema, publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of
Sciences.

Para Barrett, autor do livro Why
would anyone believe in God? (“Por que alguém acreditaria em Deus?”), há
evidências de que os sistemas religiosos ajudam a manter comunidades unidas a
dividir, a confiar, a construir redes sociais mais fortes.
Já se chegou a pensar que uma
espécie de curto-circuito na parte lateral do cérebro pudesse gerar casos de
religiosidade extrema. Ficou famosa uma experiência do neurocientista americano
Michael Persinger, batizada “O Capacete de Deus”: um capacete que estimulava
eletricamente o cérebro do usuário. Segundo Persinger, oito em cada dez
pessoas, qualquer que fosse a confissão religiosa, diziam experimentar um
“sentimento religioso” ao vestir o aparato. Mas a maioria dos estudos
científicos recentes sejam eles baseados em imagens do cérebro ou no
comportamento humano – afastou a hipótese de que a experiência religiosa seja o
mero efeito de estímulos eletromagnéticos em uma parte específica do cérebro. O
biólogo evolucionista pop e “ateu militante” Richard Dawkins chegou a usar o
capacete para um documentário da BBC britânica. Não conseguiu “encontrar Deus” só
desconforto para respirar e mexer-se. Hoje, Persinger se defende das críticas a
seu estudo. “A ‘estimulação religiosa’ reduz a ansiedade e pode ser útil para
melhorar a cooperação social”, disse.
Fé Universal No sentido horário,
a partir do alto à esquerda, budistas, cristãos ortodoxos, muçulmanos e judeus
oram e meditam. Darwin já notara a universalidade da crença religiosa. O grupo
de Newberg analisou o cérebro de pessoas que meditam e oram rotineiramente e
notou os resultados dessas práticas para o cérebro e para as pessoas. No livro,
ele lista nove técnicas de meditação que podem ser adotadas por crentes ou
ateus. Numa delas, a pessoa se concentra em um tipo de diálogo interno.
“Descobrimos que essa prática ajuda as pessoas a criar intimidade, a interagir
com as outras e a se comunicar com quem elas conhecem ou não”, diz Newberg.
Ainda estão sendo feitos estudos
para compreender melhor a meditação e a prece, mas a pesquisa de Newberg mostra
que, durante essas atividades, o lobo frontal fica mais ativo, e o lobo
parietal menos. Como essa parte do cérebro é responsável pela noção de tempo e
espaço, “desligá-la” geraria a sensação de imersão no mundo e a de ausência de
passado e futuro muitas vezes relatadas por religiosos. A maior atividade do
lobo frontal, além de melhorar a memória, segundo vários estudos também estaria
ligada à diminuição da ansiedade. “Quando a pessoa volta sua atenção para o
momento presente, não há riscos porque não há futuro”, diz Paulo de Tarso Lima,
médico especializado em medicina integrativa e complementar e responsável pela
implantação da especialidade dentro do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
O simples fato de acreditar em um ser superior – seja ele qual for reduziria a
ansiedade.
Dois estudos canadenses mostram
que quem crê em Deus tende a lidar melhor com os erros. O grupo de pesquisa,
liderado pelo professor de psicologia Michael Inzlicht, da Universidade de
Toronto, pediu a pessoas de várias orientações religiosas e também àquelas que
não creem em Deus que elas dissessem os nomes das cores que apareciam a sua
frente. Quando elas cometiam um erro, uma área do cérebro chamada “córtex
cingulado anterior” era ativada. “Quanto mais forte a religiosidade e a crença
em Deus dos participantes, menor era a resposta dessa região ao erro”, diz
Inzlicht. Isso seria uma evidência de que as pessoas religiosas ficam mais
calmas diante de um erro. “Suspeitamos que a crença religiosa protege contra a
ansiedade porque dá um sentido para as pessoas. Ajuda-as a saber como agir e,
com isso, reduz a incerteza e o estresse”, afirma Inzlicht.
A influência da crença em Deus na
redução do estresse já é quase um consenso entre os médicos. “As doenças
relacionadas ao estresse, especialmente as cardiovasculares, como a
hipertensão, o infarto do miocárdio e o derrame, parecem ser as que mais se
beneficiam dos efeitos de uma espiritualidade bem desenvolvida”, afirma Marcelo
Saad, outro médico do Albert Einstein. Doutor em reabilitação, Saad é
especializado em acupuntura e faz parte do programa de medicina integrativa e
complementar do hospital.
Para ser benéfica, a fé em Deus
teria de ser associada à prática religiosa? Várias pesquisas mostram que
participar de um grupo religioso estruturado – seja ele católico, budista, judeu,
evangélico, umbandista traz benefícios por aumentar o suporte social à pessoa.
“Esse apoio social é algo extremamente valioso para a saúde física, inclusive
para a sobrevivência e a longevidade”, diz o psicólogo americano Michael
McCullough, professor da Universidade de Miami que estuda a maneira como a
religião molda a personalidade e influencia hábitos saudáveis e relacionamentos
sociais.

Fonte: Revista Época
23/03/2009 Reportagem: Letícia Sorg / Colaboração: Marcela Buscato
"No Egito as
bibliotecas eram chamadas Tesouro dos remédios da alma. De fato é nelas que se
cura a ignorância, a mais perigosa das enfermidades e a origem de todas as
outras.”
(Jacques Bossuet).
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