
Então, sabendo que é um portador
de doença inflamatória intestinal(DII) faz de você uma pessoa sempre ansiosa que
transforma em episódios de estresse aqueles problemas de trabalho, dinheiro,
família...
Não se tratam de dúvidas tolas,
que só servem para perturbar a sua cabeça e não levam a nada. É um dilema e
tanto, pois acabam sempre nos conduzido à uma questão muito concreta: o que eu
faço? É minha culpa?
Se você não pode eliminar a
doença com um ato de vontade e, você não pode, a perspectiva permanente de vir
a sentir dores é um claro, real e objetivo fator de estresse. E o estresse, não
apenas nos casos de DII's, mas numa longa lista de outras doenças é, sim, um
complicador importante.
Vamos pensar pelo lado
científico, e é por esse fato que você deve começar a organizar a sua cabeça:
não, não é o estresse que provoca a Doença de Crohn e a Colite Ulcerativa.
"Seria absurdo afirmar que as causas da Doença Inflamatória Intestinal
(DII) são psíquicas, embora seja inegável que exista correlação entre ela e a
condição emocional do paciente", diz o psiquiatra Cássio Pitta, professor
assistente do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina. O
surgimento e a evolução das DII's estão ligados a fatores genéticos, fisiológicos e, portanto, a doença pode atingir tanto pessoas de natureza estressada como
pessoas emocionalmente tranquilas e bem resolvidas.
Em segundo lugar, é preciso
admitir uma realidade simples: ser portador de Crohn ou de Colite Ulcerativa é
motivo mais do que razoável para provocar ansiedade em qualquer pessoa, por
mais zen que ela seja. Há sempre uma expectativa da dor, diarreias constantes,
existe a possibilidade da internação em hospital, as preocupações profissionais,
diante da perspectiva de interrupção do trabalho durante as crises. Ou seja, a
própria vida cotidiana dos pacientes é diferente da vida que o resto da
população tem, a começar pelos hábitos alimentares e sociais. "Mesmo
as atitudes mais simples, como uma ida ao banheiro ou ao médico, já causam
estresse para muitos", diz a cirurgiã-geral Maria José Femenias Vieira,
especializada em proctologia e aparelho digestivo. "É uma sensação de
ansiedade que não pára."
Conclusão: a presença do estresse é perfeitamente
natural para pacientes de DII's, e ninguém deve perder seu tempo tentando
bloquear, prevenir ou eliminar seus estados de ansiedade. Muito menos, ainda,
deve sentir-se de alguma forma culpado por eles. A saída está em aprender a
lidar com a realidade do estresse, cuidando de controlá-lo (até com apoio
clínico e psicológico, se for o caso) e tratando de diminuir e limitar seus
efeitos.
O estresse, termo originado na
física e engenharia, designa o grau de pressão que faz um metal romper-se, é o
conjunto de reações que dificultam a adaptação emocional das pessoas às
"agressões" que a vida lhes traz, na forma de dificuldades de todos
os tipos.
Como tal pode ser tratado, e é.
Na verdade, o estresse não tem apenas desvantagens, há também aspectos
positivos, e valer-se deles é um passo importante para reduzir seus efeitos
nocivos. O "lado bom" da ansiedade é quando ela se apresenta como o
contrário da passividade, torna-se o incentivo que ela cria para nos ajudar a
lidar com uma nova situação, um problema, uma ameaça ou perigo. O "lado
ruim" é quando ela se apresenta de maneira exagerada ou desproporcional à
pressão que a causou, sufocando a capacidade de reagir racionalmente ou
dominando por completo o aparelho emocional da pessoa.
Em situações de pressão, o
paciente de DII deve esforçar-se para canalizar sua ansiedade na busca de
soluções e respostas capazes de diluir os problemas que o estão pressionando.
Na verdade, esses esforços para
aprender a administrar o estresse são essenciais e faz parte de todo o
conjunto de ações terapêuticas recomendadas para combater as DII's.
É certo, como
foi dito no início, que a doença não é causada por fatores psíquicos, mas é
igualmente verdade que eles têm um papel relevante no quadro. "O sistema
imunológico não é um cavaleiro sem cabeça", diz a Dra. Maria José.
"Ele está ligado ao sistema endócrino e ao sistema nervoso" e de fato,
o estresse pode influir negativamente nas crises, tornando as dores mais
intensas ou prolongadas. Em condições severas de tensão nervosa, a moléstia
pode ser agravada. Há indícios, também, de que o impacto das emoções pode
favorecer o desenvolvimento de outras enfermidades como tuberculose, gripe ou
herpes. A própria evolução do tratamento, enfim, se vê afetada pelo estado
emocional do paciente e quanto menores
forem os níveis de estresse, melhores serão suas perspectivas de progresso.

Outro ponto a ser combatido é o sentimento de culpa que, muitas vezes, aflige os portadores de DII's, "Ninguém deve ter culpa por estar sujeito a uma enfermidade", diz a Dra. Maria José. "Isso foge ao nosso controle. Não somos criadores, somos criaturas. Você não é tenso porque quer. Não é ansioso porque quer. Não é triste porque quer."
"O paciente de Crohn vive uma guerra." Por isso, ele tem que tentar controlar sua parte emocional para lidar com as tensões do dia-a-dia", diz a Dra. Maria José. "Existem portadores que respondem bem à terapia; outros preferem não ir. O importante é não ter uma expectativa exagerada de que a doença vai melhorar com o tratamento psicológico."
E os pacientes com Crohn e Colite
Ulcerativa não têm freqüência maior de diagnóstico de doenças psiquiátricas que
o restante da população, porém, uma recomendação importante é a busca por terapia psicológica sempre que necessário.
Falar sobre o que se sente,
segundo os médicos, é algo que faz bem. Pacientes que participam de grupos onde
possam discutir sua doença e desabafar com os outros sobre o que estão passando
têm experimentado progressos em sua convivência com as pressões da vida diária.
Segundo o psiquiatra Cássio Pitta "Ninguém pode esperar que um portador de DII viva tranquilo e despreocupado, a tristeza e o desânimo, nesses casos, são reações perfeitamente
esperadas. O contrário é que seria estranho".
Texto adaptado da Revista ABCD em FOCO - Ano 2 - no. 06 -inverno 2001
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