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sábado, 13 de abril de 2013

Oscilação do humor em pacientes com doença de Crohn: incidência e fatores associados


Trabalho realizado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora
Juiz de Fora, MG, Brasil.
Artigo recebido: 02/02/2012


Flávia D’Agosto Vidal de Lima1, Tarsila Campanha da Rocha Ribeiro2, Liliana Andrade Chebli2, Fábio Heleno de Lima Pace2, Leonardo Duque de Miranda Chaves3, Mário Sérgio Ribeiro4, Julio Maria Fonseca Chebli5
1 Psicóloga Clínica; Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora, MG, Brasil
2 Doutores em Gastroenterologia, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP); Professores, UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil
3 Médico, UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil
4 Doutor em Educação, UFJF; Professor, UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil
5 Doutor em Gastroenterologia, UNIFESP; Pesquisador pelo CNPq; Professor, UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil



Segue um pequeno resumo por ser artigo em PDF:

"Sigmund Freud, em 1886, foi o primeiro a destacar o papel do sofrimento psíquico na gênese de alterações orgânicas (p.ex.: diarreia, constipação, dor abdominal etc.) como influência de fatores conscientes e inconscientes. Posteriormente, com o advento da psicanálise, a origem inconsciente das doenças, regressão e dos ganhos foi consolidando-se. No entanto, apenas na década de 1930 com as terapias psicossomáticas, com base no estudo das relações mente-corpo e da importância da origem emocional das doenças orgânicas é que as DII’s foram classificadas e permaneceram assim durante anos como de etiologia psicossomática.

Na década de 1950, o behaviorismo veio trazer maior preocupação com a busca de escalas e instrumentos de avaliação de tratamento, assim como de critérios diagnósticos específicos, preocupando-se com a metodologia, confiabilidade e validade dos diagnósticos e estudos.
Atualmente, a teoria mais aceita para a etiologia das DII’s  é a teoria imunológica. No entanto, é notório o papel das emoções no sistema imunológico. O estresse pode ser definido como uma quebra da homeostase natural em que a resposta multissistêmica normal do corpo a qualquer agressão é ultrapassada, podendo iniciar, amplificar ou mesmo manter a inflamação da mucosa intestinal.

Além da importância do estresse na teoria imunológica, Zozaya et al destacaram a importância de uma série de fatores na influência do comportamento do indivíduo frente à recuperação em enfermidades crônicas, como a constituição biológica do indivíduo, genética, fator ambiental e psicológico. Existem, portanto, vários estudos que comprovam a importância de fatores psicológicos no comportamento da doença, assim como na resposta ao tratamento de diversas doenças crônicas.
O mesmo foi abordado em diversos estudos que avaliaram a possível correlação entre o estresse e a atividade das DII’s.

Apesar de resultados contraditórios, muitos pacientes dão importância a fatores psicológicos, particularmente o estresse como contribuidores da instalação e do curso clínico da doença.
A despeito de vários estudos abordando fatores psicológicos e sua influência no curso da doença inflamatória intestinal e o estudo claramente demonstrou uma elevada incidência (58%) de oscilação do humor em pacientes com DC, quando comparada à população de adultos saudáveis.

A ocorrência de depressão maior foi observada em 19% e 13% dos indivíduos do gênero feminino e masculino, respectivamente. O diagnóstico de ansiedade também foi mais comum no gênero feminino, ocorrendo em 16% dos casos. Dados semelhantes também foram observados pelo National Comorbity Survey, um estudo de cobertura nacional que avaliou 8.098 adultos, uma amostra probabilística da população geral americana.
Interessante que a história de cirurgia prévia foi um fator de proteção para a ocorrência de oscilação do humor.

Uma possível explicação para tal associação observada é que esses pacientes pudessem ter seu temor diminuído por já terem sidos submetidos a procedimento cirúrgico que promova alívio sintomático a curto e médio prazo. Assim, os pacientes operados que tiveram eliminados seus sintomas físicos que pioravam o seu estado de saúde seriam esperados que também apresentassem melhora psíquica.

Com relação à elevada taxa da oscilação do humor no sexo feminino (44%), ainda não há explicação científica que justifique esse fato, no entanto alguns estudos apontam que as mulheres são mais vulneráveis aos transtornos psicológicos, podendo ser decorrente de preocupações com a imagem corporal, efeitos da doença nos relacionamentos, na vida e outros fatores que relacionam esses sintomas aos hormônios femininos.

O presente estudo está em divergência com os resultados obtidos por Houssam et al que observaram maiores níveis de ansiedade e desesperança associados a maiores índices de atividade da doença. A maior probabilidade de reativação da doença após eventos estressantes de vida também foi observada em outros estudos. No entanto, esses estudos foram realizados em pacientes com colite ulcerativa, que muitas vezes tem um comportamento clínico diferente.

Uma limitação do presente estudo, no entanto, deve ser apontada. Embora os pacientes analisados fizessem parte do Ambulatório de DII de nossa Instituição, o cálculo do tamanho da amostra teve que ser baseado na assiduidade desses, tendo em vista a natureza longitudinal do estudo.

Parece importante que se efetue o rastreamento periódico do estado psicológico desses pacientes para se detectar possíveis mudanças no humor durante a evolução da doença, independente da DC estar ou não em atividade.
Também, decorrente de uma afecção crônica vivida por esses enfermos, poderia existir maior predisposição a distúrbios psicológicos nesta população diante de circunstâncias onerosas da vida.

Conclusão: Diante do exposto, observou-se que a incidência de oscilação de humor durante o período de seguimento foi elevada (58%), constituindo a maioria dos pacientes do estudo. Houve uma predominância desse distúrbio em pacientes do gênero feminino e naqueles que não foram submetidos a nenhum procedimento cirúrgico decorrente da DC. Apesar da incidência significativa de oscilação do humor no grupo estudado, não se observou associação entre essa e a mudança de atividade da DC.

A avaliação psicológica periódica pode ser útil para detecção e possível abordagem da oscilação do humor em pacientes com DC sendo oportuna a continuidade de estudos que busquem fazer articulações entre os aspectos psicológicos e orgânicos a fim de se conhecer melhor o paciente e de se buscar melhores estratégias terapêuticas para a melhoria da qualidade de vida desses pacientes."


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