Que hoje foi difícil sair da cama, mesmo
sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de
viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e
tive preguiça de cumprir os rituais que normalmente faço! E o que você me diz?
Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como
os outros, que não encontrei energia nem para sentir culpa pela minha letargia,
que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai
reagir como?
Provavelmente você vai dizer:"te
anima" e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente
vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da
minha tristeza), vai dizer para eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música
revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra!
Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas
também porque é mais um que não tolera a
tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada
uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o
primeiro sintoma.
Não sorriu
hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já
para o seu psiquiatra.
A verdade é que eu não acordei triste hoje,
nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste,
também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão
legítimo quanto a alegria, é um registro da nossa sensibilidade, que ora
gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar
deprimido!
Depressão é coisa muito mais séria, contínua e
complexa. Já o estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado
com alguém, com vários ou com si mesmo! E este é um direito meu e de todos nós! É estar um
pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer.
"Eu não sei o que meu corpo abriga/
nestas noites quentes de verão/ e não importa que mil raios partam/ qualquer
sentido vago de razão/ eu ando tão down...". Lembra da música? Cazuza
ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega… Melhor
sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem,
melhor desamarrar a cara. "Não quero te ver triste assim", sussurrava
Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a
enfrentam de fato.
Os esforços
não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar o seu espaço
nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de
quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é
Vinicius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em
tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns
degraus abaixo da euforia.
Tem dias
que não estamos pra samba, pra rock, pra hip hop, e nem por isso devemos buscar
pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para
festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é
armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre
volta, anunciando o fim de mais uma dor - até que venha a próxima, normais que
somos!
Sábias palavras!!! Pura verdade!!!
ResponderExcluirBeijos
Cláudia