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segunda-feira, 1 de maio de 2017

Células Tronco em Suturas e tratamento de fístulas na Doença de Crohn

Quem é paciente, familiar, amigo ou conhece alguém que tenha doença inflamatória intestinal sabe que estamos sempre procurando novidades a respeito dos tratamentos, algo novo, alguma nova esperança de cura ou, ao menos melhora na qualidade de vida
.
O primeiro transplante de células tronco para D.Crohn foi realizado no ano de 2003 em Chicago e no Brasil já é realizado desde 2004, sendo considerado como uma forma de tratamento visando a melhoria na qualidade de vida, quando o paciente não responde mais aos tratamentos medicamentosos propostos, ou seja, ainda não é a CURA e nem uma primeira opção de tratamento, como muitos imaginam. 

Durante um evento que eu tive oportunidade de participar, assistindo a aula sobre Transplante de Células Tronco na Doença de Crohn, com o Dr. Roberto Luiz Kaiser Júnior, fiquei entusiasmada com a notícia de uma nova perspectiva de tratamento utilizando células tronco mesenquimais para uso tópico em fístulas perianais. Ainda em estudo, não se sabe qual é o melhor perfil de pacientes. Mas,já é algo para termos esperança!

Então fui pesquisar mais a respeito e encontrei alguns trabalhos, inclusive um fio de sutura com células tronco desenvolvido pela UNICAMP e já patenteado que auxilia cicatrização.
Ao final do texto, estão listados os links para pesquisa, sempre bom estar informado e depois conversar com o medico que nos acompanha para saber a opinião e também como estão estas pesquisas. Lembrando que o profissional tem mais subsídios para nos orientar e juntos (médico e paciente) decidirmos o melhor a ser feito.
Boa leitura a todos, 

Células-tronco, por definição, são aquelas capazes de autorrenovação prolongada através de sucessivas divisões mitóticas do tipo assimétrica e passíveis de originar pelo menos um tipo celular em estágio mais avançado de diferenciação (Morrisson et al., 1997). 
Ainda como característica, as células-tronco são células não especializadas, ou seja,não possuem ainda comprometimento morfológico e funcional com nenhum tipo celular (Del 
Carlo, 2005).

As células tronco despertam interesse por suas características biológicas peculiares que as tornam possíveis ferramentas clínicas em diversas áreas biomédicas. As células tronco mesenquimais, por sua vez, são consideradas células multipotentes adultas não hematopoiéticas com propriedade de autorrenovação e capacidade de diferenciação em tecidos mesenquimais. Estas células podem ser obtidas de diferentes fontes no organismo adulto. 
Levando em consideração o grau de plasticidade da célula-tronco, ou seja, o seu potencial de diferenciação em tecidos variados, podemos classificá-las em três tipos: totipotentes, pluripotentes e multipotentes. 
As células-tronco totipotentes podem originar tanto um organismo totalmente funcional, como qualquer tipo celular do corpo, inclusive todo o sistema nervoso central e periférico (Gage, 2000). Correspondem às células do embrião recém-formado (zigoto) e têm potencial para originarem até mesmo as células dos folhetos extra-embrionário, 3 que formarão a placenta e os demais anexos responsáveis pelo suporte ao embrião. Entretanto, estas células possuem um tempo de vida curto e desaparecem poucos dias após a fertilização (Robey, 2000). 
As pluripotentes são células capazes de originar qualquer tipo de tecido sem, no entanto, originar um organismo completo, visto que não podem gerar a placenta e outros tecidos embrionários de apoio ao feto. Formam a massa celular interna do blastocisto depois do quarto dia de fecundação e participam da formação de todos os tecidos do organismo (Robey, 2000)
As células-tronco multipotentes são um pouco mais diferenciadas, presentes no indivíduo adulto, com capacidade de originar apenas um limitado número de tipos teciduais. Estas células são designadas de acordo com o órgão do qual derivam e podem originar apenas células deste órgão, possibilitando a regeneração tecidual local (Gage, 2000). 

As células-tronco mesenquimais, por sua vez, compõem um grupo particular de células-tronco adultas encontradas em várias partes do organismo com capacidade de diferenciação em tecidos mesenquimais. Com o avanço no entendimento das características apresentadas pelas CTMs (células tronco mesenquimais) e a padronização das técnicas de isolamento, cultivo, diferenciação e congelamento fica cada vez mais possível a aplicação clínica destas células.

As CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS estão sendo estudadas em grandes centros no mundo inteiro para tratar doenças autoimunes: artrite reumatoide; lúpus; esclerose múltipla; miastenia; distrofia muscular, esclerose lateral amiotrófica (ELA),Doenças degenerativas: Alzheimer; Parkinson;
Regeneração de tecidos: Diabetes tipo l; insuficiência cardíaca; Infarto agudo; derrame; trauma raquimedular; doenças hepáticas; osteocondral; reconstrução de córnea, tecidos destruídos por radioterapia ou quimioterapia; entre outras.

Abaixo segue a lista dos principais testes clínicos utilizando CTM cadastrados no site clinicaltrials.gov, patrocinado pelo FDA (agência reguladora de serviços de saúde nos EUA). Este site é a principal fonte de informação sobre testes aplicados em seres humanos. São mais de 400 testes clínicos sendo realizados no mundo inteiro.
Fase I : testes clínicos que avaliam a segurança da terapia em pequenos grupos de pacientes;
Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)

Fase II: testes clínicos que avaliam a segurança e eficácia do tratamento;
- Pseudoartrose
- Cirrose Hepática
- Esclerose Múltipla
- Acidente Vascular Cerebral
- Isquemia de Membros
- Anemias
- Lesão Medular
- Doença de Parkinson
- Ataxias
- Lesão Cerebral
- Coadjuvante em Transplantes de Órgãos
- Artrite Reumatoide
- Lesões de Medula
- Queimaduras
- Distrofia Muscular de Duchenne
- Coinfusão em transplantes de Células-tronco Hematopoiéticas
- Lesões Pulmonares
- Lúpus
- Doença Buerger´s
- Derrame
- Epidermólise Bolhosa
- AIDS

Fase III: testes clínicos que confirmam a segurança e eficácia do tratamento com um grande número de pacientes em condições controladas:

- Osteoartrite
- Úlceras de pele
- Doença do enxerto versus hospedeiro
- Cardiopatias
- Diabetes
- Nefropatias
- Doença de Crohn


Fio com células-tronco acelera cicatrização
Lesões em que técnica foi usada sararam em 15 dias em cobaias, quando o normal seria levar 10 semanas

Para reparar feridas no intestino de cobaias, pesquisadores da Unicamp estão contando com a ajuda de "costureiras" microscópicas: as células-tronco mesenquimais. Por meio de uma técnica complexa, patenteada pela universidade, eles descobriram como "colar" as células num fio de sutura cirúrgica. As feridas costuradas com o fio especial cicatrizaram em 15 dias, quando o normal seria levar em torno de dez semanas. Por enquanto, a abordagem foi testada em ratos.

"Isso pode ser um avanço na área de regeneração de tecidos", diz a hematologista Ângela Malheiros Luzo, coordenadora do estudo.
Ângela é orientadora do biólogo Bruno Bosch Volpe, cujo trabalho de mestrado foi o desenvolvimento da técnica e que deve continuar a refiná-la em seu doutorado.
As células-tronco mesenquimais estão em diversas regiões do corpo, como cordão umbilical e camadas de gordura - nesse último caso, é fácil obtê-las durante uma lipoaspiração, por exemplo.

"Preferimos células vindas da gordura porque, além de a obtenção não ser tão invasiva, é mais fácil fazer elas proliferarem", diz Ângela.
Ainda há dúvidas sobre a versatilidade desse tipo de célula. Sabe-se que elas dão origem a tecidos como osso e cartilagem e há indícios de que poderiam se transformar em músculos ou neurônios.

Testes iniciais mostraram resultados animadores para uma série de doenças, mas é possível que elas funcionem só como "suporte de vida" de órgãos lesados, produzindo substâncias que facilitem a cicatrização, por exemplo.
No caso das feridas intestinais estudadas, as fístulas (canal que une duas regiões que deveriam estar separadas), outros cientistas já tinham tentado amenizar a lesão aplicando células-tronco, sem grandes resultados.

Parece que o pulo do gato é o uso do fio especial para costurar a ferida. Volpe e sua orientadora acharam a receita correta para "colar" células vivas no fio, com a ajuda de uma substância chamada fibrina, e manter a proliferação delas antes da costura.
"O importante do trabalho não foi só o uso da cola. A questão era fazer com que as células saíssem do fio e tivessem efeito benéfico depois da sutura", diz a hematologista.

Outra vantagem da abordagem é que as células-tronco usadas em humanos seriam obtidas a partir do organismo do próprio doente, evitando a rejeição.
Não há datas para testes em pessoas, mas um alvo óbvio são as que têm doença de Crohn, problema com severos sintomas gastrointestinais e recuperação difícil.
Mas, diz Ângela, a técnica poderia melhorar a eficácia de suturas em outros casos, como em cirurgias plásticas.

Pesquisador: Cristina Ribeiro de Barros Cardoso/ Instituto: UFTM - MG

"Potencial terapêutico de células mesenquimais estromais na doença inflamatória intestinal
As Doenças Inflamatórias Intestinais (DII), como a doença de Crohn e a colite ulcerativa, são caracterizadas por inflamação crônica descontrolada da mucosa intestinal. Enquanto a colite ulcerativa é caracterizada por resposta imune Th2, pacientes com doença de Crohn apresentam resposta Th1 e, recentemente, descobriu-se a presença de células Th17, com produção das citocinas IL-17 e IL-23 na mucosa inflamada. Por outro lado, as subpopulações de células T reguladoras apresentam papel crítico no controle de respostas auto-imunes e/ou exageradas, como nas DII. Embora as terapias atuais sejam direcionadas a estes elementos da cascata imuno-inflamatória, nenhum tratamento é, no momento, totalmente efetivo, sendo evidente a necessidade de novas terapias para o controle da progressão das DII.

As células mesenquimais estromais (MSCs) são células multipotentes de medula óssea, com grande capacidade imunossupressora e reguladora, com importantes perspectivas terapêuticas para o tratamento de doenças auto-imunes e inflamatórias. Sendo assim, este estudo pré-clínico visa avaliar o potencial terapêutico de MSCs humanas na DII induzida experimentalmente. As MSCs serão isoladas e cultivadas a partir de células mononucleares de medula óssea de doadores saudáveis. A DII será induzida em camundongos Balb/c com injeção intra-retal de ácido trinitrobenzeno sulfônico (TNBS) e, após indução da doença, fenotipagem e marcação das MSCs, os animais serão tratados com as células e sacrificados nos dias 7, 14 e 60 pós-transplante, para a coleta de segmentos intestinais e linfonodos mesentéricos. Serão avaliados o peso, presença de diarréia e, por histopatologia, a resposta inflamatória intestinal de camundongos com DII antes e após o tratamento com MSC. A modulação da resposta imune intestinal será avaliada com ênfase nas subpopulações de células T reguladoras e Th17.

Além destas, as células do infiltrado inflamatório (CD3, CD4, CD8, CD11b, CD11c, NK, NKT, gama-delta) no intestino e linfonodos serão avaliadas por citometria de fluxo, imunohistoquímica e microscopia confocal. A expressão dos fatores de transcrição ROR, Foxp3 e das citocinas IL-10, TGF-beta, IL-4, IFN-gama, TNF-alfa, IL-6, IL-17, IL-21, IL-23, IL-25 e IL-27 será avaliada por PCR em tempo real e/ou ELISA. Ainda, o potencial supressor das células T reguladoras antes e após a terapia com MSCs será avaliado em ensaios de co-cultura com células efetoras, assim como a capacidade proliferativa de linfócitos T efetores de animais com DII frente às MSCs.
A presença, no intestino, da população de MSC infundidas, será avaliada por imunohistoquímica/confocal e a ocorrência de fusão celular entre as MSC humanas e células intestinais murinas por FISH. Amostras de outros órgãos serão também coletadas com o intuito de se averiguar possíveis alterações e a migração de MSCs para outros tecidos além daqueles inflamados, por meio da marcação das MSC (Qtracker) previamente à infusão. Finalmente, os resultados obtidos contribuirão para o entendimento da patogênese das DII e para demonstração da eficácia das MSC no tratamento dessas doenças, bem como os mecanismos imunológicos envolvidos. Sendo assim, este projeto visa proporcionar bases científicas para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas para o tratamento da colite ulcerativa e/ou doença de Crohn."


“ As CTMs (células tronco mesenquimais de origem adiposa) mostraram-se eficientes no tratamento de pacientes com desordens imunológicas e hematológicas. As CT autólogas (células tronco do próprio paciente) aumentaram a taxa de sucesso de tratamento de fístulas abertas para o exterior da cavidade abdominal em pacientes com Doença de Crohn.” 
“ A pesquisa “Avaliação da imunomodulação e do processo de cicatrização envolvidos no tratamento de fístulas enterocutaneas realizado com células estromais mesenquimais de tecido adiposo humano aderidas a fios de sutura”, realizada pelo biólogo Bruno Busch Volpe, da pós graduação da FCM, foi a única do Brasil selecionada e premiada durante o congresso internacional Till and McCulloch Metting.” 


Fontes consultadas:







Maria Rita 

3 comentários:

  1. Olá, eu e muita gente, sofre muito fisicamente e psicologicamente com um problema que a cura não é 100% garantida com as técnicas cirúrgicas atual, o problema da fístula anal. Eu particularmente já operei e a fístula não curou, tem gente que já fez mais de três cirurgias e não resolveu. Bom! Eu gostaria de saber se o tratamento com células tronco serve para cura da fístula Anorretal e se no Brasil existe essa técnica sem que precise de corte.

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    1. Olá,concordo contigo, as fístulas são manifestações da doença que nos fazem sofrer muito. Quanto ao tratamento com células tronco, eu fiquei sabendo durante um curso e pesquisando na internet encontrei as matérias que postei aqui no Blog, inclusive uma da UNICAMP sobre o fio de sutura com células tronco, só não informar como é a disponibilidade desse tratamento. Minha sugestão é que cada paciente converse com o médico que o acompanha para saber mais detalhes e se é possível, pois sei que assim como os medicamentos utilizados, os tratamentos e técnicas cirúrgicas também variam de acordo com a resposta de cada paciente. Boa sorte e se eu souber de algo mais, alguma novidade, postarei aqui no BLOG.Abraços, Maria Rita

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