Matéria publicada em 02/03/16 no jornal Folha de São Paulo, o
assunto é sobre as pesquisas sobre o uso da saliva do mosquito Aedes aegypti no controle da imunidade e
para nós, no controle da doença inflamatória intestinal.
Segredos guardados na glândula salivar do mosquito, contradizendo os noticiários, têm chave para promover saúde.
Muito além dos vírus da dengue,
chikungunya e a temida zika, cientistas encontram na saliva do mosquito Aedes
aegypti substâncias capazes de controlar a imunidade do hospedeiro (por
enquanto, animais de laboratório). Os últimos resultados de testes laboratoriais realizados durante pesquisa da Faculdadede Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP mostram que o extrato salivar do mosquito tem ação benéfica sobre doenças inflamatórias do intestino (DII), como a colite ulcerativa e a doença de Crohn.'
A equipe coordenada pela
professora Cristina Ribeiro de Barros Cardoso comprovou eficácia desse extrato
da glândula salivar do mosquito ao tratar camundongos com inflamação
intestinal. A pesquisadora conta que usaram um dos modelos experimentais mais
comuns, no qual camundongos desenvolvem colite ao ingerir uma droga chamada
dextran sulfato de sódio, que foi adicionada à água. Com a inflamação instalada
e os animais com os principais sintomas da doença (diarreia, perda de peso e
sangramento intestinal), começaram o tratamento.
Logo no início, após três ou
quatro dias recebendo o extrato de saliva do mosquito, todos apresentaram
melhora clínica geral, “com diminuição dos sinais clínicos relacionados à
gravidade da doença (diarreia, perda de peso e sangramento), além de melhora em
diferentes aspectos estruturais do próprio intestino”, diz a professora
Cristina.
O tratamento diminuiu ainda a
“infiltração de células inflamatórias no local da doença [intestino] e também a
produção de substâncias do sistema imune associadas à piora clínica, como as
citocinas inflamatórias”. Essas citocinas (interferon gama, fator de necrose
tumoral alfa, interleucina 1 beta e interleucina 5) são proteínas produzidas
por diferentes tipos de células durante a inflamação e estão diretamente
associadas ao desenvolvimento da colite ulcerativa e da doença de Crohn.
Apesar de insistir que estudos
mais aprofundados continuam e que não dá ainda para falar em terapêutica
imediata para humanos, os pesquisadores estão otimistas. Além de todas essas
respostas positivas, chamou a atenção o fato de o extrato de saliva não ter
sido, a princípio, tóxico para as células da imunidade. Mesmo assim, Cristina
garante que são necessários testes pré-clínicos específicos para confirmar que
“o extrato salivar do mosquito ou algumas de suas moléculas imunomoduladoras
possam ser usadas com segurança em seres humanos”.
Moléculas que controlam o sistema imune
Entender como os cientistas se
interessaram pela saliva do Aedes aegypti não é difícil, haja vista as
epidemias das doenças que o mosquito transmite. E, ainda, porque é na glândula
salivar da fêmea desse inseto hematófago (seres que se alimentam de sangue) que
os vírus se alojam.
Só a fêmea do Aedes transmite a
doença, pois é ela quem pica. Essa fêmea precisa de sangue para amadurecer seus
ovos e se reproduzir. Na busca desse importante alimento, a fêmea vence algumas
barreiras que começam pelo transpassar a pele e vão até o controle da
hemostasia (mecanismos que regulam a fluidez do sangue) e da imunidade dos
hospedeiros humanos que tentam, em princípio, impedir a alimentação do
mosquito.
Em consequência dos milhões de
anos de coevolução com esses hospedeiros, os mosquitos desenvolveram um
coquetel salivar com um arsenal de moléculas que possui efeitos farmacológicos
de extrema importância para se sobrepor às dificuldades encontradas ao picar os
humanos para se alimentar.
É justamente nessas armas da
saliva do mosquito que os pesquisadores vêm descobrindo promissoras
alternativas terapêuticas para doenças de fundo imunológico ou inflamatório,
como a colite ulcerativa e a doença de Crohn. De fato, estudos recentes sugerem
que componentes da saliva do Aedes possuem efeitos diretos sobre a imunidade,
sendo capazes de regular as inflamações e as células envolvidas neste processo.
Pelas pesquisas da equipe de
Cristina, substâncias da saliva da fêmea do Aedes, com função de controle
imunológico, poderiam garantir futura terapia para doenças inflamatórias do
intestino. E colegas da pesquisadora, como o professor Anderson de Sá Nunes, do
Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP de São Paulo, têm estudado o
efeito do extrato salivar em modelos de outras doenças inflamatórias ou
autoimunes, como a esclerose múltipla e o diabetes.
“O desenvolvimento de um projeto como esse
necessita, além de apoio financeiro, da participação e colaboração de
pesquisadores com notoriedade científica de diferentes áreas”, adianta Cristina
sobre o andamento dos estudos. O extrato de glândula salivar do Aedes aegypti,
por exemplo, “foi obtido através do professor Nunes, do ICB, que investiga os
componentes moleculares da saliva destes insetos”.
Já os mosquitos são criados em
condições controladas no Biotério de Insetos do Departamento de Parasitologia
do ICB, sob coordenação da professora Margareth de Lara Capurro Guimarães. Em
resumo, conta Cristina, as glândulas salivares do mosquito, contendo o extrato,
“são dissecadas e removidas por pessoal técnico altamente treinado” no ICB.
Além dos pesquisadores do ICB, os
estudos da FCFRP contam com parceria dos professores Javier Emílio Lazo Chica,
da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, e o Dr. Giorgio Trinchieri, do
National Institutes of Health, NIH, dos Estados Unidos.
Os últimos resultados foram
publicados em artigo na revista International Immunopharmacology de maio do ano
passado. As informações do artigo são também parte da tese de doutorado de
Helioswilton Sales de Campos (na foto com a profa Cristina), orientado pela
professora Cristina, e apresentada à FCFRP em 2015.
Doenças inflamatórias do intestino
Podem
acometer diferentes regiões do trato gastrointestinal (da boca ao ânus, no caso
da D. Crohn) com gravidade variável. As duas principais são: Retocolite
Ulcerativa e a Doença de Crohn.
Explica a professora Cristina que
ainda não se sabe exatamente a causa principal dessas doenças, “mas podemos
dizer que se desenvolvem devido à combinação de diversos fatores como:
alterações genéticas, de imunidade e de micro-organismos normalmente presentes
no intestino, como as bactérias (normalmente, as bactérias que vivem em nosso
intestino são benéficas à saúde, mas no caso das DII, há um desequilíbrio entre
bactérias “boas” e “ruins” no trato intestinal)”.
Embora não sejam causas diretas
das DII, fatores ambientais como estilo de vida, estresse e obesidade também
podem interferir no desenvolvimento dessas doenças. Resumindo, “são doenças nas
quais observa-se reações exageradas do sistema imune contra o próprio intestino
(ou contra as bactérias lá presentes), o que pode levar à ampla destruição
deste órgão, que fica em estado permanente de inflamação (existem várias outras
doenças com características semelhantes nas quais o sistema imunológico ataca
alguma parte do corpo, como artrite reumatoide, lúpus, diabetes tipo 1,
esclerose múltipla).
Os pacientes com DII têm
qualidade de vida muito ruim, apresentando fortes dores abdominais, diarreias,
sangramentos intestinais constantes, perda de peso entre outros sintomas e pode
haver maior predisposição ao câncer cólon-retal. Muitas vezes, os tratamentos disponíveis
não são eficazes e muitos necessitam passar por cirurgias que removem boa parte
do intestino, o que complica ainda mais o dia a dia desses pacientes.
No Brasil, ainda são poucos os
dados referentes a essas doenças; no entanto, há uma preocupação cada vez maior
da comunidade médica e científica sobre a presença dessas enfermidades em nosso
meio. Além disso, os custos dos tratamentos atuais dos pacientes com Retocolite
Ulcerativa ou Doença de Crohn são altos, o que sobrecarrega o sistema de saúde.
Por Rita Stella, de Ribeirão Preto
Notícia boa, não é? Mas ainda está em fase de estudos e por isso nada de fazer criadouros em casa, por enquanto o que sabemos é que o danado do mosquito aedes aegypti é transmissor do vírus da dengue, da zika e da chikungunya!!!
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Fontes:
Maria Rita
O cuidado com a infecção do Zika Vírus no verão é muito importante, inclusive porque conhecemos bem os hábitos do mosquito http://www.valordeplanosdesaude.com.br/noticias-de-saude/prevencao-aedes-aegypti/
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